Woman Sitting on Mountain Top at Sunset
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Subir a montanha e realizar sonhos
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Desvio dos galhos ao meu lado, enquanto procuro admirar cada detalhe da paisagem que me cerca. Pelo menos uma vez por mês, eu caminho por essa trilha, é um costume pessoal. Faço isso desde quando cursava Educação Física. Enquanto caminho, relembro a minha jornada. Eu era uma jovem de 16 anos com obesidade em grau 1, nunca me importei tanto com os comentários sobre o meu corpo, mas houve um momento em que me incomodei profundamente.


Sempre gostei da natureza e de me sentir conectada a ela. Porém, eu era alguém que ficava quietinha, apenas a observando. Apesar de querer me jogar nas aventuras de conhecer novos lugares, contentava-me em apenas olhar as paisagens. Até que um dia participei de um acampamento com familiares e quis subir um pequeno morro com eles. Estava empolgadíssima! No entanto, conforme eu caminhava, sentia-me frustrada.

Enquanto os outros seguiam animados, eu sempre ficava para trás. As pernas doíam, o suor escorria pelo meu corpo, por vezes até caía nos meus olhos, fazendo-os arder. Nem preciso comentar o quanto era difícil respirar. Naquele dia, eu não consegui chegar ao topo com os demais. Precisei me contentar em caminhar apenas uma parte do trajeto, descansar e voltar.


Para piorar, na volta ― a qual fiz sozinha, pois não achei justo os outros voltarem por minha causa, e havia marcações no caminho, era impossível se perder ― vi uma cobra atravessando o caminho que eu precisava passar. Ela era enorme! Tinha pelo menos uns três metros ― para mim ela era ainda maior do que isso. Esperei-a passar e caminhei apressadamente. Olhei para trás e ela me observava, acho que nunca corri tão desesperadamente em minha vida. Até que... caí no chão e saí rolando. Me arranhei bastante, só que doeu mais por dentro.


Minhas pernas estavam fracas por eu não fazer sequer caminhada. Meu corpo não aguentou o peso, não havia resistência ou equilíbrio o suficiente em mim. Aquela queda foi decisiva para eu me sentir incapaz. Senti que meu amor-próprio, do qual eu tanto me orgulhava e falava a respeito, não era tão grande assim. Afinal, “nosso corpo é o nosso templo”.


Decidi naquele momento que cuidaria da minha saúde física. Pesquisei tanto sobre o tema, que acabei me interessando pela graduação de Educação Física. Não que para ser saudável o curso fosse necessário, mas cada disciplina me atraiu, e eu queria viver melhor e ajudar outras pessoas a terem saúde e se sentirem bem consigo mesmas. A expressão de surpresa de todos quando contei foi inigualável! Até diria que bem engraçada. Contudo, como sempre, meus familiares me apoiaram.

Fiquei muito feliz quando passei no vestibular e foi curioso observar que as garotas do curso não tinham corpos definidos como imaginei.


Foram quatro anos de estudo e muita dedicação. Isso porque eu entrei na academia e comecei a fazer um acompanhamento com uma nutricionista, que logo virou minha amiga. Desde aquele tempo, iniciamos a rotina de caminhar e correr diariamente. Foi aí que eu vi que é mais legal ― e mais fácil ― quando temos alguém conosco. Ela nunca foi sequer “cheinha”, mas também teve problemas com o sedentarismo e precisou se exercitar, assim como eu.


Apaixonei-me pela minha profissão e hoje meu foco é trabalhar com pessoas antes sedentárias, independentemente de serem magras ou obesas. E, modéstia à parte, tenho tido ótimos resultados! É mais fácil quando trabalhamos fazendo o que amamos.


Subi a primeira montanha apenas no meu terceiro ano da faculdade. Ela é a que estou agora e é o meu lembrete de onde vim e de quem quero continuar sendo. Venho em todas as épocas do ano, o que me garante a visão de paisagens diferenciadas a cada estação. Queria dizer que tiro foto de todas elas, mas o que eu gosto mesmo é de guardá-las na memória. E quando me perguntam como é a vista aqui, eu convido para subir e apreciá-la pessoalmente.


Chegar ao topo de uma montanha, ou de qualquer outro lugar, pode ser demorado ― e geralmente é. Todavia, o processo até conseguir nos torna muito melhores do que éramos quando começamos. Não foi fácil me reeducar, muito menos ter dedicação e disciplina. No entanto, agora, chegando mais uma vez ao topo da montanha, sem parecer que vou sufocar ou cair a qualquer momento, e tendo essa vista espetacular, é mais nítido o quanto fazer isso foi a melhor decisão que tomei.


Hoje posso dizer o quanto eu me amo verdadeiramente e o quanto admiro o meu trabalho. Ser uma profissional da área de educação física é mais do que ajudar pessoas a terem um corpo “definido” ou “malhado”, é sobre ter saúde, conseguir se manter na jornada, ter foco e realizar sonhos. É sobre ter bem-estar e se sentir bem consigo mesmo, trabalhando mente e corpo. Acredite, isso nos ajuda em todas as áreas da vida!


Forest & Mountain

Sobre a autora

helena medeiros

Nasceu em 1990, é pernambucana e apaixonada por livros desde a infância. Trabalha como designer gráfico sob o nome fantasia “Ramificando Designs”. Sempre gostou de fazer diversos cursos, mas a escrita é algo de sua alma. Possui vários contos publicados, alguns em antologias e, até este momento, quatro livros e um conto publicados no formato físico de forma independente e com editora. Instagram: @escritorahelenamedeiros

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