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Comunicação Universal
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Fernanda entrou na sala de aula apreensiva, sempre existia um período de adaptação quando entrava um novo aluno no meio do ano letivo, mas Luís era um pouco diferente, seria o primeiro aluno surdo da professora, que já atuava na área da educação há mais de uma década.


Não seria simples, ela sabia, especialmente por saber muito pouco sobre a Linguagem de Sinais, mas ela estava disposta a aprender e preparada para mostrar ao menino que eles poderiam precisar de algum tempo, mas conseguiriam se comunicar como ela fazia com todos os outros da turma.


Luís chegou sendo apresentado para a turma pela diretora do colégio, que os deixou e informou para a professora que até o final da semana chegaria uma intérprete para auxiliar o menino durante as aulas.


No final desse primeiro dia, Fernanda respirou aliviada e percebeu que não precisava se preocupar quanto aos outros adolescentes, todos logo quiseram conversar com Luís e descobrir mais sobre a vida de alguém que tinha uma particularidade, que o fazia interagir com o mundo de uma forma um pouco diferente. Ela comprovou que eles tinham escutado suas longas conversas sobre respeito e acolhimento, que sempre fazia pelo menos uma vez por semana, para que percebessem que a escola era um espaço para aprender mais do que conteúdos escolares, era também um lugar para amadurecer como pessoas e perceber como as vidas de todos se conectam e importam.


Só que a preocupação em relação à comunicação permanecia, mesmo tentando se aproximar e mostrar para o menino que em momento algum ele seria deixado de lado, ela queria fazer mais. Não queria apenas esperar uma intérprete chegar para que assim ele pudesse compreender

todo o conteúdo que ela passava. Além do mais, queria conversar com ele no seu próprio mundo, de uma maneira que o deixasse à vontade para expressar suas dúvidas, fazer seus questionamentos e também contar aquelas coisas simples e cotidianas que ajudavam a construir uma boa relação entre professor e aluno.


Por isso, a partir daquele primeiro dia, ela já começou a procurar vídeos, livros e materiais diversos que ensinassem LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais.


Na segunda semana, uma intérprete ainda não tinha sido designada para Luís, mas Fernanda já conseguia formar algumas palavras na linguagem de sinais e o menino ficou admirado ao ver a professora tentando falar com ele assim.


Luís gostou tanto de ver que ela queria aprender, que ele, tão diferente, como a família sempre dizia, tinha algo a ensinar para uma professora, que se empolgou e sempre tentava mostrar para ela outros sinais, criou um específico que seria referente a ela e também começou a ensinar aos colegas.


O menino aos poucos foi se soltando, deixando transparecer suas dúvidas em relação aos conteúdos escolares enquanto se sentia cada vez mais entrosado com os outros adolescentes da turma, que aguardavam ansiosamente pelo final das aulas para terem a sua própria “aula” da linguagem de sinais com um professor da vida.


A chegada da intérprete Mariana, semanas depois, facilitou para que Luís compreendesse mais facilmente os conteúdos e formulasse as suas dúvidas de forma mais eficiente, e Mariana ficou positivamente feliz ao perceber que aquele aluno não era um dos excluídos que ela já tanto

tinha visto em escolas, onde a inclusão acontecia, mas apenas na fachada. Ali, naquela sala de aula de uma escola interiorana, ela constatou na prática a realidade da inclusão com um aluno surdo sendo recebido pelos colegas e ensinando diariamente novas palavras e expressões para eles.


Por isso, não foi surpresa quando, no final do ano letivo, todos os alunos já se expressavam através da Língua de Sinais sempre que Luís estivesse por perto. Ninguém queria deixá-lo de fora das conversas e até as brincadeiras típicas de adolescentes já envolviam o aluno novo também.


Aquele foi um ano repleto de aprendizados para todos, especialmente para a professora, que percebeu como o aprendizado precisa ser constante e por parte de todos. . Ela tinha se disposto a enfrentar seus receios, encarar um novo desafio depois de tanto tempo em sala de aula notava o quanto tinha aprendido. a vida, as pessoas, as diferenças e,

especialmente, sobre o quanto os adolescentes eram parecidos.


Ouvintes ou não, todos tinham suas dúvidas, seus pensamentos sobre a escola, sobre os outros adolescentes e todos aqueles questionamentos envolvendo o futuro.


Os desafios da vida sempre fariam parte de uma comunicação universal.


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Sobre a autora

Flávia Werneck

Licenciada em Letras-Literaturas (UFF) e pós-graduada em Tradução de Inglês. Nasceu em Campos dos Goytacazes, uma cidade no interior do estado do Rio de Janeiro. Possui um blog e um Instagram literário, onde fala de livros, filmes e séries desde 2016. Trabalha com revisão acadêmica, literária e de mídias sociais.

Instagram: @fala.werneck


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